domingo, 27 de julho de 2008

Viva João Ubaldo Ribeiro!

O prémio Camões acaba de ser atribuído ao escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro. E com toda a justiça.
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Os jornais portugueses, na sua maioria, fazem referência aos romances A Casa dos Budas Ditosos e O Sorriso do Lagarto como as suas obras de referência, especialmente a primeira (como se a polémica que criou a sua publicação em Portugal fosse um carimbo de qualidade), o que só pode significar que os redactores de serviço não leram nenhuma delas. Jornalismo à portuguesa, pois claro.
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De resto, não se esperaria que lessem as 673 páginas da sua obra magna, Viva o Povo Brasileiro (nesta edição do Círculo de Leitores, de 1996). Quem já se deu ao trabalho - porque dá algum - de ler este extraordinário romance, sabe do que falo. Trata-se, certamente, de uma das maiores criações novelescas de sempre em língua portuguesa. E é tanto o que conta sobre nós! Deixo-vos parte do primeiro parágrafo, que, estou certo, tocará o espírito de quem gosta de literatura e ainda não teve o privilégio de ler este romance sublime:
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"Contudo, nunca foi bem estabelecida a primeira encarnação do Alferes José Francisco Brandão Galvão, agora em pé na brisa da Ponta das Baleias, pouco antes de receber contra o peito e a cabeça as bolinhas de pedra ou ferro disparadas pelas bombardetas portuguesas, que daqui a pouco chegarão com o mar. Vai morrer na flor da mocidade, sem mesmo ainda conhecer mulher e sem ter feito qualquer coisa de memorável. É certamente com a imaginação vazia que aqui desfruta desta viração anterior à morte, pois não viveu o bastante para realmente imaginar, como até hoje fazem os muito idosos em sua terra, todos demasiado velhos para querer experimentar o que lá seja, e antão deliram de cócoras com seus cachimbos de três palmos, rodeados pelo fascínio dos mais novos e mentindo estupendamente. (...)"
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