domingo, 13 de dezembro de 2009

6+6+6+6 = Equilíbrio, bom senso e inteligência

Há dias, ouvi na TSF estas palavras, de um ouvinte que participava num fórum: "os homens deviam trabalhar seis horas, brincar seis horas, estudar seis horas e dormir seis horas". Não sei se seriam suas, mas ter partilhado estas palavras, para quem as ouve pela primeira vez, foi como uma bofetada seca, ou um aprofundar de convicções no meu caso.
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O modelo económico das sociedades modernas, baseadas no consumo crescente, é uma ilusão, uma mentira ao serviço do bem-estar de alguns - cada vez mais, é verdade -, mas em prejuízo evidente e irreversível do planeta. There's no such a thing as a free lunch, já diziam muitos economistas há décadas atrás, embora noutro contexto. Os recursos têm fim, assim como a nossa capacidade para o trabalho e a sanidade mental dos indivíduos e das sociedades.
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O emprego pleno é outra ilusão, cada vez menos discutível (ainda que pouco discutida), face ao desenvolvimento tecnológico imparável. Das duas uma: ou temos uma grande e cada vez maior percentagem de cidadãos de segunda, desempregados e discriminados pelos apoios sociais do estado, com evidentes consequências ao nível das relações sociais, ou uma distribuição mais equitativa e menos pesada do trabalho. É este segundo caminho que urge seguir e que acarreta profundas alterações ao nosso modelo de desenvolvimento, que deverá ser baseado no lazer e no conhecimento, como contrapontos do trabalho e do descanso.
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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Saramago sobre Vasco Pulido Valente

Tenho lido com admiração os artigos de opinião do Vasco Pulido Valente, mesmo não concordando sempre com os seus pontos de vista.
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Mas o seu artigo de última página no Público de hoje foi um erro. Um erro brutal. Ou seria Uma Farsa?
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Diz o Vasco, por várias vezes, de ângulos vários, que não é inteligente quem dá valor - seja ele qual for - a José Saramago. Sem rodeios. Bruto. Pouco polido, mesmo.
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Acontece que o Vasco não pode ter lido Saramago, ou, com maior probabilidade, não soube ler Saramago.
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José Saramago reinventou a língua portuguesa: deu-lhe uma dinâmica nova, uma outra agilidade; difícil de adestrar para o leitor comum, é verdade, mas de um fulgor que só me lembro de ver com igual regularidade em Camões. E são muitos os linguístas que o dizem.
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José Saramago não é tão genial na arquitectura dos seus romances, com duas ou três excepções. A alguns deles, de uma linearidade exemplar e com personagens extraordinárias (não me lembro de autores que tenham transformado animais em personagens tão sublimes, por exemplo), falta-lhes uma volta de tarraxa.
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Nos seus últimos romances (ainda não li Caim) é notória a sua decadência criativa. Natural, convenhamos.
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Falo do escritor, não do homem, que não conheço. Senão pelas suas opiniões mediatizadas. O Vasco confundiu os dois, o que é pena. Ou valente, se pretendia realmente Uma Farsa.
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O Vasco cometeu um erro brutal. Foi pouco polido. Eventualmente valente.
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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Gatos ao Poder!

Por entre as nuvens cinzentas que abraçam a sociedade e a vida política portuguesas, a inteligência do humor fedorento deixa-nos alguma esperança. Nele descrutinamos mais saber sobre a realidade da economia, da educação e da política do que esta exibe e nos deixa perceber. Tanto assim é que nos questionamos: seriam os Gatos capazes de nos governar pior? Venham eles a escrutínio!

sábado, 12 de setembro de 2009

Os votos que vão decidir

A quinze dias das eleições legislativas, e após os dez debates televisivos entre os candidatos dos principais partidos, restam-me poucas dúvidas sobre os votos que vão decidir.
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Ao contrário do que entende a maior parte dos comentadores políticos, parece-me que a maior fatia de votos voláteis está dividida entre o Bloco de Esquerda e o PSD. Estranho, mas é um facto: são os dos eleitores (sobretudo funcionários públicos) que já decidiram há muito não votar PS e que simpatizam com o dinamismo interventivo do Bloco, mas que hesitam entre esta empatia e a necessidade do voto na única força política que pode derrotar José Sócrates.
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Para além destes, há muitos votantes PS de há 4 anos que não querem repetir aquele voto (e não desejam votar à esquerda), mas que ainda não decidiram votar PSD, por não o verem como alternativa. Os quinze dias que antecedem as eleições serão decisivos para estes eleitores.
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Por último, quem mais está em jogo nestas eleições legislativas é Paulo Portas. Arrisca-se a desaparecer do mapa político ou a ser o grande vencedor.
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"Derrotar Sócrates" vai ser a motivação decisiva para a ida às urnas daqueles eleitores. Tudo o resto é mais ou menos previsível.
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segunda-feira, 9 de março de 2009

Bom Sinal

Hoje foi notícia que as reservas das agências de viagens para o período de férias da Páscoa se mantêm a níveis do ano passado e, em alguns casos, até superiores. Ao contrário do que poderão pensar a maioria das pessoas face a este dado, no momento de crise económica em que nos encontramos, parece-me um bom sinal. Sem ironia.
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É verdade que algumas dessas férias serão pagas a crédito, o que não é muito aconselhável neste contexto. Mas o que me parece importante realçar é que as pessoas não estão dispostas a prescindir dos seus momentos de lazer, de fuga à lógica do trabalho, de descompressão. O lazer tornou-se um valor absoluto. Algo que está acima de outros impulsos consumistas e de certos valores mais tradicionais. É uma mensagem importante aos líderes mundiais que insistem em recauchutar a antiga ordem económica e financeira. O mundo quer um novo paradigma - o do trabalho para o lazer, como um direito de todos. E é possível. Haja vontade!
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sábado, 24 de janeiro de 2009

Um novo modelo civilizacional

Parecerá não fazer sentido face às ideias feitas dos nossos caros (literalmente) economistas e líderes políticos mundiais, mas se queremos que a humanidade se continue a desenvolver de modo mais equilibrado e constante, com mais justiça e paz social, há que "mudar agulhas":
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- cada um de nós trabalhar menos horas por dia (seria possível apenas metade), tendo, como resultado, mais tempo livre e, com este:
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- dedicar mais tempo à família (à educação dos filhos e ao cuidado dos idosos), aos amigos e ao convívio social
- investir mais na sua educação e formação pessoal
- desfrutar da vida
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Ilusão?
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Não!
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Com várias nuances e esquematicamente: o desemprego diminuiria de forma crescente até zero. As prestações sociais com o desemprego e a formação profissional "fantasmas" deixariam de ser necessárias. Consequentemente, os impostos a pagar por cidadãos e empresas diminuiriam (assim como a fuga ao fisco), libertando verbas para os salários de mais empregados, com manutenção e até aumento dos rendimentos disponíveis. O crescimento da indústria do lazer e da cultura (com mais emprego não sazonal) teria o contraponto na redução da máquina do estado e da despesa deste. O aumento da felicidade e bem-estar geral teria repercussões na saúde das pessoas e, consequentemente, por várias vias, no erário público; o investimento na formação pessoal e na educação num maior e melhor desenvolvimento tecnológico e científico, posto ao serviço do trabalho e da salvaguarda do ambiente, bem como no fortalecimento dos valores humanos. A valorização do ambiente e da saúde promoveriam a prática agrícola de qualidade e a utilização de energias limpas. O bem comum observado à nossa volta teria reflexos na não aceitação de práticas especulativas e de exploração económica e humana. A corrupção não teria onde se alimentar. A diferença entre ricos e pobres diminuiria significativamente...
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Em teoria, a humanidade podia viver maioritariamente do lazer e da cultura. A indústria e a agricultura cada vez mais mecanizadas ocupariam uma pequena parte dos homens e mulheres do planeta.
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Sonhemos?
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