sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Revoltante...

O que mais irrita neste governo não são as medidas políticas cegas que teima em tomar. O que é profundamente revoltante é quererem tomar-nos por cegos.
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Segundo o governo, o encerramento recente de várias urgências e maternidades, por exemplo, não resulta de imperativos económicos, mas sim de uma preocupação genuína com a saúde dos cidadãos. Agradecemos.
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Mal sabem os nossos ilustres representantes que, quando os cidadãos se deslocam a um centro de saúde ou hospital, não o fazem por estarem doentes, mas sim para gozarem com o governo.
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segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

A ditadura das prendas

O Natal está gasto. Estas palavras também, por já não serem novas. Embora tente lutar por iludir a obrigação de oferecer prendas, as amarras e os imperativos da boa educação e da consideração coartam a minha liberdade de escolher. Mas o que mais me incomoda nem é o acto de oferecer e receber nesta data, antes o que ele esconde das nossas consciências: a pobreza material e espiritual que grassa, a degradação dos princípios humanos, o sofrimento da natureza... É isto que os embrulhos coloridos realmente encobrem. Mas nós não queremos ver, pois incomodam o nosso bem-estar. Infelizmente, a economia mundial vive deste desperdício.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Pontualidade à portuguesa

Ontem, pelas 19.30, apresentei-me no restaurante Palácio, em Vila Verde, para um jantar de Natal entre colegas de trabalho e amigos. Cheguei sem a prendinha que tinha sido acordada trazer, no valor de dois ou três euros - algo simbólico, que servisse de pretexto para mais umas gargalhadas. Na verdade, aquando da convocatória, não me tinham avisado para tal. Saí novamente para o ar húmido e frio, sem grande esperança de poder desfazer o aperto. Andei meia centena de metros e entrei num quiosque ainda aberto, onde, sem pensar duas vezes e pelo preço estabelecido, comprei uma bolsinha para telemóvel azul bebé com o logotipo da Playboy (que, com grande pontaria, viria a sair em sorteio à colega organizadora do convívio). Em cinco minutos estava de volta ao aconchego do Palácio. Passado o quarto de hora de tolerância da praxe, dos 21 convivas esperados, estavam em campo apenas 9 - número que se manteria até às 20.30! Só às 20.40, setenta minutos depois da hora aprazada, se apresentaram os dois últimos comensais - com uma naturalidade e bonomia invejáveis. Àquela hora, aqueles 9 convivas de modos certamente antiquados e grosseiros já tinham amanhado parte das entradas e vertido alguns decilitros de sangue divino... Uma nota positiva: ninguém faltou ao convívio. Feliz Natal, colegas e amigos!
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quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Mais uma boa história

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Tenho como certo que é mais difícil escrever um romance em linguagem simples, num estilo acessível, do que o oposto. Desde que, obviamente, a arquitectura da história seja superior - na verdade, a característica central de um bom romance. Equador, a primeira aventura novelística de Miguel Sousa Tavares, trouxe um sopro de ar fresco ao texto narrativo português. Tanto mais que não ignorou um dos fundamentos do acto de narrar: o leitor, neste caso.
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Numa entrevista recente à TSF, Miguel Sousa Tavares afirma que o seu romance mais recente está melhor escrito que Equador. Discordo. Rio das Flores é uma boa história, bem estruturada, a espaços muito bem escrita, mas parece-me pecar em dois ou três aspectos fundamentais e que distinguem os romances excepcionais dos simplesmente bons.
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A personagem principal, Diogo, ao contrário das restantes personagens importantes, não me parece suficientemente sólida, convincente. E este facto não se deve tanto aos atributos que lhe possamos encontrar quanto ao facto de ser "apagado" pela voz do narrador heterodiegético, excessivamente intrusiva do ponto de vista ideológico, excessivamente paternalista para com o leitor. Creio que a preocupação com a verosimilhança do contexto histórico (as quatro décadas subsequentes à implantação da República, em particular as da instauração do Estado Novo) anula de algum modo uma personagem que se caracteriza precisamente pela oposição ao regime vigente.
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Rio das Flores não deixa, apesar de tudo, de ser um bom romance. Como em Equador, Miguel Sousa Tavares "encontrou" uma boa história para contar, o que é o mais difícil - talvez pedisse apenas um pouco mais de tempo para ser apurada. Mas sabemos o quanto os momentos editoriais são importantes - e o Natal está à porta! Só é pena que custe 26 euros: preço absolutamente proibitivo para a maioria dos portugueses (este fim de semana comprei The Road, de Cormac McCarthy, por 9 euros, em edição de bolso importada! - à atenção dos editores portugueses).
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domingo, 28 de outubro de 2007

A indisciplina morre solteira

A propósito da preocupação do Procurador Geral da República com a violência nas escolas, a Ministra da Educação afirmou que não devemos empolar a questão da indisciplina, que esta é (creio que por estas palavras) "um problema dos professores e das escolas".
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Assim não vamos lá!
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A indisciplina é um problema de educação, de formação humana, que cabe sobretudo à família; e é determinada por modelos culturais que estão para além da escola. As práticas pedagógicas dos professores e as estruturas organizativas das instituições escolares têm a sua importância, mas, na maior parte das situações, só podem atenuar aquilo que é determinado por aqueles (e, claro, pelas políticas de educação, de que nem vale a pena falar). O resto, são cantigas...
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terça-feira, 23 de outubro de 2007

Ranking das Escolas SIC 2007

O Ranking das Escolas SIC 2007 revela dois factos incontornáveis:

- nas escolas privadas encontramos o melhor (o rigor e a exigência como filosofia de trabalho; e o esforço de um corpo discente oriundo, na sua maioria, de classes sociais abastadas e culturalmente privilegiadas) e o pior (a atribuição de classificações internas em que o cú não bate com as calças);

- as escolas públicas são vítimas da navegação de cabotagem a que os últimos governos do país as têm votado (e em que as palavras rigor, exigência, empenho... são quase proibidas) e das contingências que os desequilíbrios económicos, sociais e culturais do país determinam.

Em resumo: os ricos pagam e têm, por vias legítimas ou tortuosas, e os pobres e remediados comem e calam. Uma vénia às poucas excepções (que, de certeza, resultam de contextos em que a autoridade, o rigor, a exigência e o empenho não são palavras ligeiras). Infelizmente, tudo se conjuga para que as dicotomias se agravem...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

A todo o gás!

Hoje, no pavilhão polivalente da escola, observei atentamente 4 jovens do 10º ano reunidos à volta de uma mesa e dos seus computadores portáteis topo de gama - felicíssimos! Sem dúvida, a provar a eficiência e a justeza do Plano Tecnológico. À sua volta, uma dezena de compinchas invejava a sua destreza informática numa partida de hóquei no gelo, num combate de artes marciais e noutras lutas afins. Ninguém os bate! Com este nível de formação, os nossos parceiros europeus estão no bolso.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

É a hora!

Se tem alguma vergonha na cara, Sr. Luís Filipe Vieira, demita-se!
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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Mais um pontapé na Educação

Num gesto certamente único no mundo civilizado, 21 membros do Governo de Portugal iniciaram ontem, com toda a pompa e circunstância, a distribuição - a preços reduzidos - de computadores equipados com internet por professores e alunos de escolas de todo o país. Mais um passo do designado Plano Tecnológico. Tudo muito bonito, muito organizado, muito fresco.
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Não fosse ser, simbolicamente (sobretudo pelo que tem de subliminar), mais um pontapé na qualidade dos processos de ensino-aprendizagem que se desenvolvem nas nossas escolas. Pois ao contrário do que nos juram a pés juntos, as novas tecnologias não são uma mais-valia evidente. Ou melhor, são um elemento positivo do mesmo modo que o é uma caneta e uma folha de papel. Mais um recurso a que se deve recorrer com moderação, como forma de variar processos. De resto, o computador e a internet na sala de aula contribuem mais para a distracção e a brincadeira do que qualquer outro recurso educativo.
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Evidentemente, no mundo de hoje, o desenvolvimento de competências ligadas ao uso das novas tecnologias é fundamental. A questão que se coloca é se a sala de aula é ou não o melhor local para as desenvolver. Para quem conhece o terreno, a resposta é claríssima: a esmagadora maioria dos jovens não quer ter ou usar um computador para aprender.
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No fundo, mais um pouco de política à portuguesa... Mas que é muito cool, ai lá isso é!
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quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Revolução adiada

Há quinze dias atrás, arranquei de férias para fora do país com uma esperança: a de que ocorresse uma revolução para os lados do Glorioso.
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Chegado ontem, constatei que sim, que tinha havido uma revolução. Mas não aquela por que eu ansiava. Precisamente o inverso.
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O excelentíssimo presidente do Sport Lisboa e Benfica é como o algodão. Só não vê quem não quer ver.
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quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Indecente!

Os professores dos Quadros de Zona Pedagógica (e outros em circunstâncias de colocação diversas, mas aos milhares), todos com vínculo ao estado há mais ou menos anos, acabaram o ano de trabalho e, merecidamente, como qualquer trabalhador, na sua maioria, entraram de férias a 1 de Agosto - o mês do ano em que, por sinal, fica duas vezes mais caro tirar férias (mas isso é outro assunto).
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A maioria desses professores foram afectos à escola em que terminaram o ano lectivo por um período de três anos - assim rezava o discurso político, assumido como verdade absoluta pelo povo crédulo. Na verdade, desde o início, não era bem assim... O Decreto-Lei n.º 20/2006 era claro: três anos se... se mantivessem a componente lectiva (isto é: se houvesse horário). Os professores sabiam-no bem. Mas não era por três anos?, perguntaram-me várias pessoas.
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O que é grave é que tudo isto é legislado sem qualquer conhecimento do terreno e com total falta de respeito pelas pessoas. Como a maioria das escolas foi incapaz (por razões várias de índole burocrática) de distribuir o serviço atempadamente, de modo a saber se os referidos professores teriam ou não componente lectiva, estes ficavam (e ficaram) obrigados a concorrer à afectação a uma nova escola - com a ameaça explicita (na lei) de exoneração do vínculo se não o fizessem.
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O concurso de afectação destes professores (e outros concursos, incluindo o de contratação, em datas iguais ou semelhantes) decorreu entre 1 e 7 de Agosto! Inadmissível num estado de direito, que deve dar o exemplo! Uma colega minha foi obrigada a concorrer do Perú, em pleno gozo de férias, tendo que realizar vários telefonemas, certamente angustiados, para obter informação necessária ao mesmo. Para dar uma nota de humor a todo o processo, essa colega (e centenas, senão milhares de outros), acabaram de ser retirados do concurso, pois as escolas finalmente conseguiram distribuir o serviço e chegaram à conclusão de que, afinal, havia horário para esses professores...!
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Se, para os professores que não têm vínculo ao estado, o concurso é uma oportunidade de emprego, e se aceita (com muitas reservas, pois não revela grande capacidade de planeamento) que o concurso seja nesta altura do ano, para os professores dos quadros que se sujeitam a trabalhar este ano aqui, aquele ali, novamente aqui..., e que cumpriram (não interessa se bem ou menos bem) o seu dever... é INDECENTE!
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quinta-feira, 12 de julho de 2007

2 + 2 ...

Os resultados assombrosos nos exames de matemática do 9º ano (72,8% de negativas, das quais cerca de um terço de nível 1) são fáceis de interpretar. Basta saber somar...
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Pode reforçar-se o Plano da Matemática; podem contratar-se os melhores professores do mundo (e o que é isso?); podem disponibilizar-se os computadores mais potentes; até poderemos oferecer um lanchezinho e uma coca-cola aos nossos alunos a meio do exame...
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Sem trabalho não há resultados.
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É um facto insofismável; tudo o que se disser para além disto só tem duas interpretações: ou é um engano infeliz ou uma tentativa de "tapar-nos os olhos".
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A ponta mais visível do icebergue é a matemática, mas a decadência das aprendizagens é visível em todas as áreas curriculares. E quem mais sofre com isto, por incrível que pareça a muitos, são os professores, impotentes para solucionar um problema que os ultrapassa: a falta de vontade de aprender e de trabalhar.
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E o logro continua. O principal responsável? - O Estado, de há vários governos para cá.
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Mas alguém se preocupa?
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quarta-feira, 4 de julho de 2007

Vamos nessa, Vanessa

É de justiça afirmá-lo: ainda a dar os primeiros passos seguríssimos na sua carreira desportiva, Vanessa Fernandes é já, indiscutivelmente, um dos dez maiores desportistas portugueses de todos os tempos. Um título mundial e uma medalha de ouro olímpica colocá-la-ão entre os maiores dos maiores. E ainda por cima numa modalidade espectacular, que não tem a atenção que merece. Não será por muito tempo. Força, Vanessa!
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sexta-feira, 29 de junho de 2007

Pobrezinho...

Segundo o excelentíssimo Ministro da Saúde, os "pobrezinhos" deste país até poderiam ficar com os restos dos medicamentos consumidos por outros doentes...
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Se o desperdício deve preocupar o nosso digno representante, mesmo tendo em consideração o tom irónico com que verbalizou esta ideia, não deixa de ser muito pobre a noção com que dele ficamos.
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Mesmo que isso seja "impossível", de um Ministro de qualquer nação e de qualquer tutela só devemos esperar que actue de modo a que não haja uma só pessoa a quem tenhamos de tratar por pobre.
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As palavras têm o peso que têm e que nós lhes queremos dar. Mas mais uma vez ficamos com a certeza de que temos dois países: o dos que fazem fila de madrugada para marcar uma consulta num centro de saúde e o dos que têm a certeza de jamais ter de recorrer aos Serviços de Atendimento Permanente.
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terça-feira, 26 de junho de 2007

Joe the foe?

O senhor Joe Berardo pode ser o maior coleccionador português de arte contemporânea, ter muito, muito dinheiro, ganho à custa da sua inteligência e trabalho, e até ter alguma razão sobre a política de contratações do Benfica...; mas o tom das suas palavras denota um não sei quê de "quero, posso e mando" que desencantam o cidadão e o adepto mais crédulos.
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segunda-feira, 18 de junho de 2007

Titular

A divisão da carreira docente em professores titulares e simples professores é a negação de tudo o que deve ser a educação. Mais, é uma extensão de uma tendência cada vez mais acentuada na nossa escola: a prevalência da burocracia e de critérios financeiros sobre as problemáticas pedagógicas. As injustiças e incongruências são tais que escandalizam qualquer um que se queira informado. Remeto para o site do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (poderia indicar outros), onde poderão perceber a dimensão do problema.
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Na realidade, não interessa ser-se competente e empenhado.
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sexta-feira, 15 de junho de 2007

Grande revelação

Os empresários, magnatas e abutres afins que custearam o estudo sobre a localização do futuro aeroporto internacional em Alcochete afirmaram não ter qualquer interesse pessoal na implantação do mesmo ali, na margem sul.
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Para que conste, revelo aos meus fidelíssimos leitores que este vosso escriba nasceu em Júpiter no glorioso ano de 2199 - e que vos escreve aqui e agora como resultado de uma viagem no tempo.
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domingo, 10 de junho de 2007

Sobre os portugueses

No Jornal de Notícias de hoje podemos ler um trabalho jornalístico recorrente neste período de primavera-verão: auscultam-se as opiniões de meia dúzia de estrangeiros radicados em Portugal sobre como vêem o país e os seus nativos. Deste grupo de entrevistados, que inclui apenas uma pessoa relativamente conhecida - o romancista e professor americano Richard Zimmler -, um professor chinês de ténis de mesa, uma estudante turca, uma consultora gastronómica austríaca, entre outros, retive quatro ideias:
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- Aspectos positivos: o peixe e o vinho (e a gastronomia em geral) e a simpatia das pessoas
- Aspectos negativos: a falta de responsabilidade e ambição, em particular no trabalho.
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Na verdade, nada que me surpreendesse. Mas é interessante o "peso" destas notas: por um lado, o turismo como mais valia; por outro, um traço de carácter ou atitude como o nosso calcanhar de Aquiles. Uma lição para nós e um excelente apontamento para os que nos governam (mas duvido que lhes interesse, pois também parecem sofrer destes males)
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segunda-feira, 4 de junho de 2007

Pobrezinhos...

Há cerca de dois anos li um comentário de um economista espanhol a propósito do aumento de impostos em Portugal. Necessariamente por outras palavras, dizia que equivalia a apertar a garganta a alguém que já estava a sufocar.
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Se alguém ainda tem dúvidas das mentiras a que nos têm sujeito e da insensatez das medidas económicas tomadas pelos últimos governos, veja-se a estatística hoje divulgada sobre os salários médios no norte de Portugal e na Galiza: 636 e 1240 euros, respectivamente. Para além de diferenças assinaláveis no PIB e tendências díspares da taxa de desemprego.
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Há dois meses estive com um amigo num café de estrada na aldeia de Arbo, na Galiza, a meio quilómetro da fronteira do rio Minho. Entabulámos conversa com o casal de idosos que geria o estabelecimento e, naturalmente, a conversa tocou na questão mais premente da actualidade galega: a vaga de imigração que assola a região. Conversa puxa conversa e falávamos de salários. A Sra. Maria Porto, dona do estabelecimento, ficou chocada quando lhe confidenciei o meu salário de professor com 12 anos de carreira: "Isso ganha o meu sobrinho, que acabou de sair da escola [sem terminar o ensino secundário, porque não lhe apetecia estudar] numa fábrica de placas de trânsito em Porriño. Sem as horas extraordinárias... [pagas pontualmente]"
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Liminar!
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sexta-feira, 1 de junho de 2007

A Galeria dos Horrores

Se repetir as palavras sábias dos outros servir para que a mensagem chegue a mais meia dúzia de almas...
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A equipa de Maria de Lurdes Rodrigues tem já, por muitos motivos, lugar assegurado na Galeria dos Horrores da Educação em Portugal. Não precisava de ter agora instruído os professores para que "deixassem passar" os erros ortográficos e de construção na avaliação das provas de Língua Portuguesa do 4.º e 6.º anos onde "apenas" estaria em causa avaliar a "competência interpretativa" dos alunos (como se os limites da expressão não limitassem o pensamento e a interpretação). Enquanto em alguns países da Europa o "eduquês" e as hordas das "ciências da educação" batem em retirada, deixando para trás gerações inteiras equipadas com "competências" mas desprovidas de saber, entre nós floresce a "selva oscura" do "aprender a aprender". Não deve haver Ministério da Educação no Mundo que tantas reformas, reformas de reformas e reformas de reformas de reformas faça, tantas "experiências pedagógicas", tantos "projectos-piloto". O resultado está à vista fornadas de jovens são todos os anos despejadas às portas do ensino superior mal sabendo ler, escrever e contar. O que vale é que para tirar certos cursos superiores não é preciso saber ler, escrever e contar e que para arranjar emprego bastam "competências" como conhecer a gente certa ou estar na "jota" certa.
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Manuel António Pina, in Jornal de Notícias, 01/06/2007
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domingo, 27 de maio de 2007

Médicos preocupados

Acabou de passar na SIC uma reportagem sobre um conjunto de doentes visuais portugueses que se deslocou à Ucrânia para tentar perceber se o seu estado de saúde era realmente irreversível, tal como lhes diziam em Portugal. Nem todos os doentes trouxeram esperança, mas muitos melhoraram o seu estado de saúde visual ou pararam o processo que os conduziria a uma cegueira "inevitável". Médicos preocupados foi o que encontraram na Ucrania, segundo uma das doentes.
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O que subjaz desta reportagem excelente não é a ideia de que os médicos portugueses não sejam ou não possam ser preocupados, mas sim a de que o sistema de saúde português não responde às necessidades dos seus doentes nem potencia essa qualidade fundamental de se ser um médico preocupado. Exijamos que os impostos que pagamos sejam usados em nosso benefício. A democracia também é isto.
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domingo, 20 de maio de 2007

Ainda haverá esperança?

Neste preciso momento, está a passar o filme Desperado no AXN, com o António Banderas e o Joaquim de Almeida. Sentei-me no sofá para fazer um pouco de companhia à minha esposa. Estava sentado há um minuto ou dois quando uma personagem diz:
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"Do we pay him or do we kill him?"
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A respectiva legendagem:
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"Pagamos-o ou matamos-o?"
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Não acredito que ainda haja disto na televisão portuguesa, mesmo que na cabo. É de ficar desesperado.
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sábado, 19 de maio de 2007

Um novo líder para o Benfica

Será que no universo vasto de sócios benfiquistas não há alguém que não tenha um estilo sarrafeiro, que não seja desonesto, que não esteja constantemente a aparecer perante as câmaras de televisão, que não seja sentimentalista ao ponto de despojar de bom senso a política de contratações...? Em suma, alguém que tenha perfil de líder?
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Curso de Sócrates: Piada provoca suspensão de professor

(Título de notícia de primeira página do Público de hoje)
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"Um professor de Inglês, que trabalhava há quase 20 anos na Direcção Regional de Educação do Norte (DREN), foi suspenso preventivamente das suas funções por ter feito um comentário humorístico sobre a licenciatura do primeiro-ministro, José Sócrates. A directora regional, Margarida Moreira, considerou o acto um insulto."
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Pergunto: que professor ou funcionário público já não fez um comentário semelhante sobre o primeiro-ministro no seu local de trabalho? Ou sobre a ministra da educação? Ou sobre a corrupção dos governantes? Suspenda-se toda a gente, bando de linguarudos! E, já agora, promovam-se os poucos que babam elogios a suas excelências.
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Leia-se o resto da notícia para outros considerandos.
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sexta-feira, 18 de maio de 2007

A perseverança da família McCann

É absolutamente extraordinário o alcance mediático do esforço da família McCann para não fazer esquecer o desaparecimento da sua filha de quatro anos. Não me ocorre uma situação semelhante. Desde a internet aos campos de futebol em competições internacionais, tudo é espaço para manter viva Madeleine. Esperemos que literalmente. Mas não posso deixar de perguntar-me se isto seria possível sem o factor da origem sociocultural e profissional desta família. E do seu poder financeiro, directo ou indirecto. Dá que pensar.
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domingo, 13 de maio de 2007

O meu palpite

Desde há quatro, cinco semanas que aposto com os meus colegas de trabalho que o Porto não ganha ao Aves na última jornada, perdendo o campeonato ao cortar da meta. É um daqueles palpites... Naturalmente manchado pela minha aversão a dragões e simpatia de longa data pela equipa da Vila das Aves.
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Mesmo tendo ainda esperança de que o Benfica possa arrebatar o título in extremis e com toda a improbabilidade, não tenho dúvidas de que quem o merece é o Sporting. Por duas razões: foi a equipa mais regular e, mais importante, porque tem uma equipa recheada de jovens portugueses. Uma aposta da direcção leonina que subscrevi desde início, em oposição à estratégia sentimentalista e tonta da direcção benfiquista.
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Venham rapidamente esses últimos 90 minutos de emoção e, espero, confirmação dos meus fantásticos poderes divinatórios, com o alto patrocínio do professor Neca.
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sexta-feira, 11 de maio de 2007

O Ministério da Educação e a estabilidade profissional do corpo docente

Tomemos como exemplo - verdadeiro - as colocações do professor x nos últimos 9 anos, em escolas que distam umas das outras um máximo de 16 quilómetros:
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98/99: escola 1
99/00: escola 1
00/01: escola 1
01/02: escola 1
02/03: escola 2
03/04: escola 1
04/05: escola 3
05/06: escola 3
06/07: escola 1
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Ressalve-se que:
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- o referido professor sempre deu prioridade à colocação na escola 1, exceptuando os anos lectivos 05/06 e 06/07, em que, farto de tantas manobras, procurou candidatar-se à escola 3 em primeiro lugar e à escola 1 em segundo;
- as colocações nos anos lectivos 99/00 a 01/02 tiveram lugar por destacamento para exercício de um cargo de orientação pedagógica, por iniciativa da escola; não tendo isso acontecido, o seu percurso teria sido ainda mais tortuoso;
- na escola 1 houve sempre horários a concurso, mesmo nos anos em que não foi lá colocado. Cabendo, necessariamente, aos professores a quem foram atribuídos esses horários um percurso de colocações idêntico;
- o percurso de colocações do professor x até pode ser considerado muito bom face a outros - inúmeros - exemplos, uma vez que as escolas em que foi colocado não estão muito distantes umas das outras.
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O ano passado, com pompa e circunstância, o Primeiro Ministro anunciou uma maior estabilidade na colocação dos professores nas escolas, através da afectação da maioria dos professores dos quadros a uma mesma escola por um período de 3 anos. Hoje, o professor x teve conhecimento de que, afinal, contra as suas expectativas, teria que concorrer obrigatoriamente para efeitos de graduação e, eventualmente, colocação.
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Algumas questões para reflexão:
- em que medida beneficiaram e beneficiarão as escolas, os alunos e o professor x (e todos os outros) desta gincana no processo de colocações.
- a escola 2 lembra-se do professor x?; os seus alunos nesta escola ficaram marcados pelo seu trabalho contínuo?; o professor x terá gostado de trabalhar na escola 2?
- o Ministério da Educação está mesmo preocupado com a qualidade dos processos educativos?
- serão o professor x, os alunos y e z e as escola 15 e 30 apenas letras e números?
- quem é que anda a brincar com quem?
- isto é um país?; e se o é, para onde vai?
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quinta-feira, 10 de maio de 2007

Lisboa e a lei do voto

Lisboa vai a votos. Não sou lisboeta, mas preocupo-me. Os candidatos que se perfilam são os mesmos do costume. Ainda que entre eles haja alguém competente e sério, nenhum deveria receber os votos dos lisbonenses. Por uma razão apenas: para acabar de vez com esta cumplicidade sustentada pelos partidos políticos. Uma ruptura absolutamente necessária. Que começe na capital!
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quarta-feira, 9 de maio de 2007

Direitos raptados

Algumas famílias portuguesas de crianças raptadas ou desaparecidas têm razões óbvias para se sentirem indignadas: o destacamento policial e de investigação criminal afecto ao caso Madeleine McCann é manifestamente desproporcionado relativamente ao que foi disponibilizado para as situações infelizes de que foram e ainda são vítimas. Quem terá a coragem de explicar isto?
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domingo, 6 de maio de 2007

Alberto João Jardim

Goste-se ou não deste dinossauro madeirense (truculento, irascível, rude, autoritário, fanfarrão, etc, etc.), dê-se a mão à palmatória: defende os seus eleitores como muito poucos neste país; se cada deputado ao parlamento pugnasse pelo desenvolvimento dos respectivos círculos eleitorais como este madeirense camaleónico, o país seria necessariamente diferente para melhor. De outro modo, como justificar que 64,2% dos madeirenses o tenham escolhido novamente para líder? A história de que são manipulados ou ignorantes já não pega, mesmo que o sejam. A razão é clara: Alberto João Jardim é um homem do povo: simples, prático e objectivo. Tudo o que a grande maioria dos nossos políticos não quer ou não sabe ser. Todos os seus inúmeros defeitos, paradoxalmente, por naturais, ajudam a reforçar todas as suas virtudes. Goste-se ou não.
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quinta-feira, 3 de maio de 2007

Prender o fumo

Há problemas que não têm solução no meio termo. A questão da proibição de fumar em espaços públicos não pode distinguir estabelecimentos com área x de outros com área y; não pode outorgar aos proprietários o direito de decidir pela proibição ou a permissão; não pode compadecer-se com interesses corporativistas ou egoístas. Veja-se o que sucedeu em Espanha, onde a grande maioria dos estabelecimentos que decidiram pela proibição tiveram que voltar atrás ou encerrar. Contrariamente, veja-se o que sucedeu na Irlanda, em que a proibição total foi um sucesso.
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Os factos são claros: o tabagismo é manifestamente prejudicial à saúde dos que fumam e dos que não fumam; setenta por cento da população portuguesa não é fumadora; oitenta e muitos por cento são favoráveis a medidas restritivas; os direitos individuais só fazem sentido quando não colidem com os direitos dos outros...
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Quaisquer outros argumentos só podem ser motivados por interesses particulares ou económicos. Se o bom senso imperar, proibe-se totalmente o fumo em espaços fechados. Os fumadores exercerão o seu direito ao prazer de um cigarro ao ar livre. E que bem lhes fará!
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quarta-feira, 2 de maio de 2007

res publica

Plano de intenções: Este Fulgor Baço da Terra procurará ser um espaço de exercício da cidadania, em considerandos que tanto tocarão um certo Fernão Barbudo/ que plantava couves em Oliveira do Hospital como os temas mais prementes do nosso pequeno mundo.