quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Mais uma boa história

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Tenho como certo que é mais difícil escrever um romance em linguagem simples, num estilo acessível, do que o oposto. Desde que, obviamente, a arquitectura da história seja superior - na verdade, a característica central de um bom romance. Equador, a primeira aventura novelística de Miguel Sousa Tavares, trouxe um sopro de ar fresco ao texto narrativo português. Tanto mais que não ignorou um dos fundamentos do acto de narrar: o leitor, neste caso.
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Numa entrevista recente à TSF, Miguel Sousa Tavares afirma que o seu romance mais recente está melhor escrito que Equador. Discordo. Rio das Flores é uma boa história, bem estruturada, a espaços muito bem escrita, mas parece-me pecar em dois ou três aspectos fundamentais e que distinguem os romances excepcionais dos simplesmente bons.
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A personagem principal, Diogo, ao contrário das restantes personagens importantes, não me parece suficientemente sólida, convincente. E este facto não se deve tanto aos atributos que lhe possamos encontrar quanto ao facto de ser "apagado" pela voz do narrador heterodiegético, excessivamente intrusiva do ponto de vista ideológico, excessivamente paternalista para com o leitor. Creio que a preocupação com a verosimilhança do contexto histórico (as quatro décadas subsequentes à implantação da República, em particular as da instauração do Estado Novo) anula de algum modo uma personagem que se caracteriza precisamente pela oposição ao regime vigente.
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Rio das Flores não deixa, apesar de tudo, de ser um bom romance. Como em Equador, Miguel Sousa Tavares "encontrou" uma boa história para contar, o que é o mais difícil - talvez pedisse apenas um pouco mais de tempo para ser apurada. Mas sabemos o quanto os momentos editoriais são importantes - e o Natal está à porta! Só é pena que custe 26 euros: preço absolutamente proibitivo para a maioria dos portugueses (este fim de semana comprei The Road, de Cormac McCarthy, por 9 euros, em edição de bolso importada! - à atenção dos editores portugueses).
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