sexta-feira, 12 de março de 2010

"(Mas) Tu achas isto normal?!"

A pergunta "(Mas) Tu achas isto normal?!" é um dasabafo, um apelo a um olhar conivente, a uma resposta que torne a incompreensão do mundo que nos rodeia menos solitária. É a pergunta, o desabafo que mais se ouve no meu local de trabalho, quase transformado em tique. Mas é a pergunta mais legítima do nosso presente, em Portugal. É um grito silencioso pelas respostas que não lhe dão quem devia decidir por nós.
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Um menino de 12 anos suicida-se porque é violentado pelos colegas e um professor suicida-se porque é violentado pelos seus alunos; a uma ouvinte é-lhe cortada a palavra num fórum da rádio por dizer que sicrano é incompetente quando outros dizem que é competente; a gasolina já vai a caminho do euro e meio ao litro e alguém disse alguma coisa?; os clubes de futebol têm orçamentos bilionários com assistências nos seus estádios que nem merecem esse nome; os nossos jovens são subsidiados para estudar e uma consulta de dez minutos no dentista custa trinta e cinco euros; uma aluna adulta desempregada que frequenta um curso de Educação e Formação ganha mais do que vários funcionários com anos de serviço na escola que frequenta; trabalhamos oito, dez e doze horas por dia quando não há e cada vez haverá menos trabalho para todos; o Procurador Geral da República não se encontra a si mesmo; os nossos alunos usam melhor um gadget do que uma caneta, quando a têm; pedem-nos mais produtividade e, para isso, aumentam-nos a idade da reforma; a construção da linha de TGV até Madrid será uma forma de estimular o emprego e a economia, mas teremos de custear os seus custos de exploração por falta de utilizadores e de pagar o subsídio de desemprego àqueles que a construirão...
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Tudo, tudo factos de absoluta normalidade em Portugal.
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Mas ainda há quem faça aquela pergunta!