sexta-feira, 29 de junho de 2007

Pobrezinho...

Segundo o excelentíssimo Ministro da Saúde, os "pobrezinhos" deste país até poderiam ficar com os restos dos medicamentos consumidos por outros doentes...
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Se o desperdício deve preocupar o nosso digno representante, mesmo tendo em consideração o tom irónico com que verbalizou esta ideia, não deixa de ser muito pobre a noção com que dele ficamos.
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Mesmo que isso seja "impossível", de um Ministro de qualquer nação e de qualquer tutela só devemos esperar que actue de modo a que não haja uma só pessoa a quem tenhamos de tratar por pobre.
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As palavras têm o peso que têm e que nós lhes queremos dar. Mas mais uma vez ficamos com a certeza de que temos dois países: o dos que fazem fila de madrugada para marcar uma consulta num centro de saúde e o dos que têm a certeza de jamais ter de recorrer aos Serviços de Atendimento Permanente.
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terça-feira, 26 de junho de 2007

Joe the foe?

O senhor Joe Berardo pode ser o maior coleccionador português de arte contemporânea, ter muito, muito dinheiro, ganho à custa da sua inteligência e trabalho, e até ter alguma razão sobre a política de contratações do Benfica...; mas o tom das suas palavras denota um não sei quê de "quero, posso e mando" que desencantam o cidadão e o adepto mais crédulos.
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segunda-feira, 18 de junho de 2007

Titular

A divisão da carreira docente em professores titulares e simples professores é a negação de tudo o que deve ser a educação. Mais, é uma extensão de uma tendência cada vez mais acentuada na nossa escola: a prevalência da burocracia e de critérios financeiros sobre as problemáticas pedagógicas. As injustiças e incongruências são tais que escandalizam qualquer um que se queira informado. Remeto para o site do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (poderia indicar outros), onde poderão perceber a dimensão do problema.
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Na realidade, não interessa ser-se competente e empenhado.
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sexta-feira, 15 de junho de 2007

Grande revelação

Os empresários, magnatas e abutres afins que custearam o estudo sobre a localização do futuro aeroporto internacional em Alcochete afirmaram não ter qualquer interesse pessoal na implantação do mesmo ali, na margem sul.
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Para que conste, revelo aos meus fidelíssimos leitores que este vosso escriba nasceu em Júpiter no glorioso ano de 2199 - e que vos escreve aqui e agora como resultado de uma viagem no tempo.
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domingo, 10 de junho de 2007

Sobre os portugueses

No Jornal de Notícias de hoje podemos ler um trabalho jornalístico recorrente neste período de primavera-verão: auscultam-se as opiniões de meia dúzia de estrangeiros radicados em Portugal sobre como vêem o país e os seus nativos. Deste grupo de entrevistados, que inclui apenas uma pessoa relativamente conhecida - o romancista e professor americano Richard Zimmler -, um professor chinês de ténis de mesa, uma estudante turca, uma consultora gastronómica austríaca, entre outros, retive quatro ideias:
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- Aspectos positivos: o peixe e o vinho (e a gastronomia em geral) e a simpatia das pessoas
- Aspectos negativos: a falta de responsabilidade e ambição, em particular no trabalho.
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Na verdade, nada que me surpreendesse. Mas é interessante o "peso" destas notas: por um lado, o turismo como mais valia; por outro, um traço de carácter ou atitude como o nosso calcanhar de Aquiles. Uma lição para nós e um excelente apontamento para os que nos governam (mas duvido que lhes interesse, pois também parecem sofrer destes males)
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segunda-feira, 4 de junho de 2007

Pobrezinhos...

Há cerca de dois anos li um comentário de um economista espanhol a propósito do aumento de impostos em Portugal. Necessariamente por outras palavras, dizia que equivalia a apertar a garganta a alguém que já estava a sufocar.
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Se alguém ainda tem dúvidas das mentiras a que nos têm sujeito e da insensatez das medidas económicas tomadas pelos últimos governos, veja-se a estatística hoje divulgada sobre os salários médios no norte de Portugal e na Galiza: 636 e 1240 euros, respectivamente. Para além de diferenças assinaláveis no PIB e tendências díspares da taxa de desemprego.
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Há dois meses estive com um amigo num café de estrada na aldeia de Arbo, na Galiza, a meio quilómetro da fronteira do rio Minho. Entabulámos conversa com o casal de idosos que geria o estabelecimento e, naturalmente, a conversa tocou na questão mais premente da actualidade galega: a vaga de imigração que assola a região. Conversa puxa conversa e falávamos de salários. A Sra. Maria Porto, dona do estabelecimento, ficou chocada quando lhe confidenciei o meu salário de professor com 12 anos de carreira: "Isso ganha o meu sobrinho, que acabou de sair da escola [sem terminar o ensino secundário, porque não lhe apetecia estudar] numa fábrica de placas de trânsito em Porriño. Sem as horas extraordinárias... [pagas pontualmente]"
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Liminar!
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sexta-feira, 1 de junho de 2007

A Galeria dos Horrores

Se repetir as palavras sábias dos outros servir para que a mensagem chegue a mais meia dúzia de almas...
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A equipa de Maria de Lurdes Rodrigues tem já, por muitos motivos, lugar assegurado na Galeria dos Horrores da Educação em Portugal. Não precisava de ter agora instruído os professores para que "deixassem passar" os erros ortográficos e de construção na avaliação das provas de Língua Portuguesa do 4.º e 6.º anos onde "apenas" estaria em causa avaliar a "competência interpretativa" dos alunos (como se os limites da expressão não limitassem o pensamento e a interpretação). Enquanto em alguns países da Europa o "eduquês" e as hordas das "ciências da educação" batem em retirada, deixando para trás gerações inteiras equipadas com "competências" mas desprovidas de saber, entre nós floresce a "selva oscura" do "aprender a aprender". Não deve haver Ministério da Educação no Mundo que tantas reformas, reformas de reformas e reformas de reformas de reformas faça, tantas "experiências pedagógicas", tantos "projectos-piloto". O resultado está à vista fornadas de jovens são todos os anos despejadas às portas do ensino superior mal sabendo ler, escrever e contar. O que vale é que para tirar certos cursos superiores não é preciso saber ler, escrever e contar e que para arranjar emprego bastam "competências" como conhecer a gente certa ou estar na "jota" certa.
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Manuel António Pina, in Jornal de Notícias, 01/06/2007
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